da falsidade de certo boato que naquele tempo correu!

— Qual boato? murmurou Fernando trêmulo.

— De vos haver vosso pai deserdado!...

— Restituí-me esse papel! Onde está ele?...

— Paciência, nobre senhor. Antes de desempenhar o encargo que me foi cometido, devo referir-vos uma história que foi passada há bem anos. Ouvi-me sem interromper, por mais estranhos que vos pareçam tais sucessos à vossa pessoa: a explicação virá depois.

O velho arrastou a cadeira para se chegar do fidalgo e começou de narrar com a voz surda, como se temesse acordar os ecos adormecidos nos recantos daquela habitação.


— Vivia nesta cidade no ano de 1586 uma donzela de nobre linhagem, ainda que pouco favorecida da fortuna; mas tão avessa lhe fora a sorte em bens, como pródiga se mostrou a natureza em prendas e graças. De todos os mancebos de então era a qual mais lhe admirasse a formosura e lhe gabasse a gentileza, mas só um teve a dita de cativar-lhe o coração, e bem o merecia. A gente o chamava o Donzel pela nobreza