A mão maquinalmente estendida topou com um objeto frio e liso ao tato, e às apalpadelas descobriu outro áspero e leve. Era um canjirão d’água com uma broa por tampo. Naturalmente o carcereiro viera enquanto ele dormia e lhe deixara a ração diária. Estácio não tomara alimento algum naquele dia; devorou pois com avidez a broa e bebeu meio canjirão d’água. Feito o que recostou-se de novo na muralha para reatar o sono interrompido.

O murmúrio de vozes que já escutara chegou-lhe de novo ao ouvido. Dessa vez Estácio, já livre do torpor do sono, notou que o som vinha de baixo, e não do lado, como lhe parecera em princípio.

— Talvez haja outro cárcere por baixo deste!

Mas não acabara essa reflexão, quando a razão lhe mostrava a inverossimilhança dela. De feito; além de não ser provável que existissem cárceres abaixo do nível do mar em uma fortaleza construída sobre rocha viva, acrescia que a espessura da abóbada não permitiria ouvir a voz de quem falasse nessa masmorra subterrânea. Ocupou-se por algum tempo o mancebo a cogitar sobre a singularidade acústica do cárcere; porém logo deu trégua