trazia na memória duas senhas; a verdadeira que ouvira do ajudante, e a falsa por ele inventada na travessia do castelo para a ribeira; nos bolsos trazia igualmente dois papéis, no do calção o original da nota do sargento-mor, e no do gibão uma paráfrase por ele adrede escrita e decorada com o título de cópia.

Por que motivo tinha o alferes no peito do gibão o importante documento de que o velho Samuel desejava uma cópia para seus fins secretos? Não era uma imprudência arriscá-lo consigo em ocasião tão melindrosa, quando ia em própria pessoa entregar-se nas mãos de inimigos?

O alferes não primava pela prudência e tino. Valente e fanfarrão, como era, tinha para si que não havia mais segura guarda de um tesouro do que fosse o seu peito defendido pela terrível espada; de resto professava pela raça judaica tão profundo desprezo, que nem por sonho admitira a possibilidade de erguer um desses réprobos a mão ousada sobre um fidalgo do seu sangue, e um oficial de El-Rei. De feito um caso desses importaria a expulsão dos judeus não só das colônias, mas talvez dos reinos unidos de Espanha e Portugal.