— À uma da madrugada.
— Iremos em sua companhia.
— Para onde, filha?
— Para Holanda!... Depois do que é passado, nem Samuel, nem sua filha, podem mais viver nesta terra!
— Mas é a terra de tua criação, Raquel!
— E amanhã seria a do nosso suplício e túmulo! Não! basta já que nela fique sepultado meu coração!
— Pensais que o traidor cristão ouse denunciar de nós?
— A vingança do vil e o punhal do assassino ousam tudo, pai! Neste cofre estão as minhas joias; forra-te de ouro, tanto quanto te for possível levar, e à uma hora, partiremos. Vai; fico te esperando.
O rabino voltou ao sinédrio.
Raquel embuçando-se em ampla e rica peliça, abriu as adufas da persiana, e recostando a face no umbral da janela, engolfou os olhos no azul recamado de estrelas. As lágrimas em fio deslizavam mansamente e rolavam como pérolas pela face polida da seda.
Essas lágrimas eram o degelo de uma alma que o desengano invadira súbito; eram pesadas como