Alberto. D. Diogo de Menezes não duvidou pois que Estácio, de concerto com os holandeses, tivesse perpetrado aquele feio crime de traição. Mandou contudo reter prisioneiros os pescadores até colher maior informação e tirar completamente a limpo a verdade do fato. Enquanto se procedia a indagações, D. José, que temia-se de ver descoberta sua infâmia, foi arrastado à mentira para desviar de si qualquer suspeita. Não duvidou assegurar ao governador que o plano da evasão dos flamengos fora concertado pelo judeu Samuel, a rogo e instâncias da filha Raquel, para salvar Estácio a quem amava. O desaparecimento do rabino dava a essa versão, já autorizada pela pessoa de quem vinha, cunho de verdade. O depoimento do Brás, arrancado pelo alferes, encheu a prova, tornando-a plena.

Tanto bastava para naquele tempo condenar-se um homem; sendo o crime, como o imputado a Estácio, dos chamados crimes de guerra, e o mais infame deles, a espionagem complicada de traição, as fórmulas já sumárias do julgamento eram dispensadas, e o réu fuzilado sem forma de processo nem detença, não se lhe deixando mais que o tempo de confessar-se.