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O CASAMENTO DO NARIZINHO

furada que lhe servia de tinteiro e principiou a escrever cartas de amor. Escreveu até acabar a tinta e a penna ficar reduzida a toco. Ia escrevendo e mandando, e tantas escreveu e mandou que o mordomo do palacio teve de organizar um serviço de correio especial, dispondo milhares de sardinhas pelo fundo do mar, a pouca distancia uma da outra. As cartas iam passando de mão em mão, como fazem os pedreiros com os tijolos.

Narizinho lia as cartas e respondia com presentes — ora uma flor, ora um grillinho verde do gramado, ora uma rosada e roliça minhoca. Mandou tambem uma das rosquinhas de polvilho, dizendo que fora enrolada pelas suas proprias mãos.

Foi o presente que o principe mais gostou. Em vez de comer a rosquinha, mandou que o melhor ourives do reino engastasse nella uma fieira de diamantes, de modo a transformal-a numa preciosa corôa.

— Ficará sendo a minha corôa real — e nenhuma porei na cabeça com maior orgulho! disse commovido.


III — OS BRINCOS DO MARQUEZ


Chegou afinal o dia da partida. De manhã cedo deu Narizinho os ultimos retoques no vestido novo da boneca.

Emilia fez cara de pouco caso. Achou feio. Queria vestido de cauda.

— Você, disse ella, convidou-me para madrinha de casamento, lembre-se. Como posso, pois, apresentar-me na côrte com esse vestido de Judas no sabbado da Alleluia?

— Lá arranjaremos outro, como daquella vez, respondeu a menina. Este é só para a viagem. Se faço vestido de cauda, você vae enganchando pelo fundo do mar, onde ha muito pé de coral, mais espinhento do que carrapicho.

O visconde de Sabugosa tambem ia, para servir de pa-