104
O CASAMENTO DO NARIZINHO

Emquanto isso Pedrinho conversava com o doutor Caramujo a respeito da serpente do mar.

— Mas ha ou não ha essa serpente? dizia elle. Uns dizem que ha, outros dizem que não ha. Qual é a sua opinião, doutor Caramujo?

— Nunca vi, respondeu o medico. Mas o mar é tão grande que deve haver de tudo.

— Uma coisa não ha, interveio Narizinho. Sereias! Vóvó disse que sereia é mentira.

Pedrinho fez um muxoxo de duvida.

— Como pode vovó saber, se nunca viu nem uma praia?

— Essa é boa! replicou Narizinho. Parece até que a burrice da Emilia pegou em você, Pedrinho! Vóvó sabe por que lê nos livros e é nos livros que está a sciencia de tudo. Vóvó sabe mais coisas do mar, sem nunca ter visto mar, do que este senhor Caramujo, que nelle nasceu e móra. Quer ver?

E voltando-se para o illustre doutor:

— Diga, doutor, qual é o seu nome scientifico?

O doutor Caramujo engasgou, com cara de que nem siquer sabia que tinha nome scientifico.

— Não sabe, não é? continuou Narizinho victoriosa. Não sabe e no entanto vovó sabe — e até o senhor visconde, só porque cheirou os livros de vóvó, é capaz de saber. Vamos, visconde! Dê um quinau aqui neste sabio da Grecia. Diga qual é o nome scientifico dos caramujos.

O visconde limpou o pigarro e deitou sabedoria.

— O senhor Caramujo é um mollusco gasteropode do genero Liparis.

Enthusiasmada com a sciencia do visconde, Narizinho bateu palmas.

— Está vendo, doutor? O senhor é um Liparis. Li-pa-ris! Com "élle" grande! Escreva na sua casca para não es-