MONTEIRO LOBATO
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— Só se são encantadas...

— Peor que isso. São deste tamanhinho, e voam como umas damnadas. Certa vez uma ferrou na ponta da lingua de Narizinho. A coitada viu fogo! Vespa sim, é um bicho perigoso. Eu por exemplo, que não tenho medo de nada, confesso que respeito as vespas — e não tenho vergonha nenhuma de dizer isso.

O couraceiro, que era um dos caranguejos mais gabolas do mar, deu uma risada de desafio.

— Pois eu só queria encontrar-me com uma dellas! Tenho tirado a prosa de muito bichinho valente e tirava a prosa das vespas tambem.

— Pedrinho riu-se.

— Sua valentia vem da couraça. Tire a casca e venha luctar com uma vespa, se é capaz!

Offendido com o juizo que o menino fazia delle, o couraceiro replicou:

— Saiba que já me bati com uma grande lagosta e a venci em poucos minutos.

— Grande coisa! Pois eu já dei no Chiquinho Pé-de-Pato, que é o moleque mais temido lá da cidade, e no entanto corro de vespa. Corro e hei-de correr, e nunca terei vergonha de contar isso, porque ter medo de vespa é o unico medo que não desmoraliza ninguem.

Estavam nesse ponto quando passou Emilia, muito requebrada no seu vestido de cassa cor de rosa. Ia tão absorvida em pensamentos que nem os percebeu.

— Quem é esta senhora? perguntou o couraceiro.

— Pois é a marqueza de Rabicó, não sabe? Uma das damas mais illustres dos tempos modernos.

— Hum! fez o couraceiro lembrando-se. Se não me engano esteve lá no reino ha muito tempo, em companhia de Narizinho. Mas naquella época usava camisola e tinha os cabellos pretos.

— Emilia muda muito, não é como vocês que são sem-