— "Nada disso. A terra que eu procuro é lá onde o demo perdeu as botas. Quero encontrar essas botas.
O capitão julgou que estivesse a mangar com elle e me pregou tamanho ponta-pé, que fui parar no porão.
Todos deram gostosas risadas e tia Nastacia observou:
— Isso é invenção de gente sem serviço. Esse lugar nunca existou.
— Como nunca existiu, se foi lá que o demo perdeu as botas? replicou Emilia. Eu acho que sêo Felix tem toda a razão e mais vale descobrir esse lugar do que descobrir a America. Continue, sêo Felix.
O gato continuou:
— Fiquei no porão até que o navio entrou num porto. Desembarquei e fui andando por um caminho muito comprido. De repente appareceu uma velha, muito velha e coróca, de porretinho na mão.
— Vae ver que era uma fada, cochichou Emilia ao ouvido de Narizinho.
— Cheguei-me para a velha e perguntei-lhe:
— "A senhora poderá dizer-me onde fica o lugar onde o demo perdeu as botas?"
A velha admirou-se da pergunta; arregalou os olhos, abriu uma bocca de bagre sem um só dente nas gengivas e respondeu:
— "Não sei, gatinho. Mas se você for andando, andando, andando sem parar, aposto que um dia chega a essa terra."
Acceitei o conselho da velha e fui andando, andando, andando até que encontrei um velho de grandes barbas brancas, chamado sêo Maneco. Era um sabio que sabia o nome de todos os bichinhos da terra e de todas as pedrinhas do chão e de todos os mattinhos do matto. Com certeza havia de saber tambem onde ficava a tal terra. Cheguei-me para elle e perguntei: