MONTEIRO LOBATO
155

do Sherlock Holmes, ficou tão experto que é capaz de descobrir o ladrão.

Foram falar com o visconde e contaram-lhe tudo. O visconde deu uma risadinha de detective e disse:

— Deixem o negocio por minha conta. Irei examinar o local do crime e tomar as minhas providencias.

E foi. Foi para o gallinheiro e passou todo o dia a examinar a poeira do chão, a catar os pellinhos que havia nelle, a conversar com os paes da victima — um lindo gallo carijó e uma gallinha sura.

Emquanto isso Emilia pensou, pensou, pensou e inventou a historinha que ia contar de noite. Quando chegou a noite, e tia Nastacia accendeu o lampeão e disse: "E´ hora!" a boneca entrou na sala, muito esticadinha para traz, toda cheia de si.

— Era uma vez... foi dizendo.

— Espere, Emilia, advertiu Narizinho. Não vê que o visconde, nem o gato Felix ainda não vieram?

Nisto chegou o gato, e sentou-se no collo de dona Benta. Depois appareceu o visconde, e entrou para dentro da lata.

Emilia começou de novo:

— Era uma vez um rei...

— Eu já sabia que vinha historia de rei, interrompeu Narizinho. Emilia vive com a cabeça entupida de reis e principes e fadas...

A boneca não fez caso e continuou:

— Era uma vez um "rei", um "principe" e uma "fada", que moravam juntos num lindo palacio de crystal, na beira do lago mais azul de todos. Era uma belleza esse palacio, todo cheio de fios de ouro que quando dava o vento iam para lá e vinham para cá. E quando dava o sol os crystaes e os ouros brilhavam tanto que quem olhava sentia logo uma tontura e precisava se agarrar em qualquer coisa para não cahir.

E o principe foi e disse:

— "Quero me casar, meu pae, mas as moças daqui não