176
CARA DE CORUJA

Branca de Neve contou toda a historia de sua vida, promettendo vir mais vezes ao sitio de dona Benta brincar com a menina e a boneca. Prometteu tambem trazer os anõezinhos que a tinham salvo das garras da má madrasta.

— Onde vivem hoje aquelles sete anõezinhos? perguntou Emilia.

— Vivem commigo, no castello. Tudo lá brilha que nem ouro porque não pode haver no mundo creaturas mais trabalhadeirinhas.

— Oh, exclamou a boneca, porque não dá um delles á tia Nastacia? A coitada vive se queixando que está velha e muito precisada de quem a ajude na cozinha.

— Impossivel! respondeu Branca. Elles são sete e se sahir um, quebra a conta. A gente não deve mexer com o numero sete, que é magico.

Neste ponto da conversa o visconde gritou de novo do alto da sua janella.

— Estou vendo duas poeirinhas lá longe!...

— Duas? exclamou Branca de Neve. Com certeza é Rosa Vermelha e sua irmã Rosa Branca. Nunca andam sem ser juntas.

Eram ellas, sim. Logo que a carruagem parou no terreiro, Rabicó, com toda a burrice, annunciou:

— As senhoras Pé de Rosa Branca e Pé de Rosa Vermelha !

Desta vez Narizinho deu-lhe um pontapé disfarçado, emquanto recebia as duas princezas. Rosa Branca disse logo avisasse que não ao entrar:

— A Bella Adormecida pediu-me que avisasse que não póde vir.

— Que pena! exclamou Narizinho. E por que?

— Não sei. Supponho que está se preparando para espetar o dedo noutro espinho e dormir outros cem annos.

Emilia immediatamente veio perguntar pelo urso que tinha virado principe e casado com Rosa Branca.