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CARA DE CORUJA

turado, estava preparando nova fuga — delle e de varios outros.

Emilia ficou num assanhamento jamais visto. Agarrou o heroezinho e não o largou mais. Botou-o no collo, fel-o contar toda a sua vidinha. Depois o levou ao seu quarto de boneca para lhe mostrar a porção de brinquedos que tinha.

— Antes de mais nada, tire as botas. Nem sei como o senhor tem coragem de andar com tamanho peso nos pés!...

— E' que sem ellas não valho nada. Sou pequenino demais, e fraco, mas com estas botas não tenho medo nem de gigante.

— E de elephante? perguntou Emilia.

— Nem de elephante, nem de hippopotamo, nem de rhinoceronte, nem de girafa, nem de anão mau, nem de serpente...

— E de jacarépaguá? perguntou ainda a boneca, para quem jacarépaguá devia ser o monstro dos monstros.

— Nem de jacarépaguá, nem de nada. Cada passo desta bota anda sete leguas. Acha que um jacarépaguá pode me pegar?

— Que belleza! exclamou Emilia extasiada. Eu, se fosse o senhor, deixava-as aqui no sitio por uma semana. Que bom! Poderiamos brincar o dia inteiro de estar aqui e estar lá no mesmo instante!...

Das botas passou aos seus brinquedos. Mostrou-lhe uma collecção de feijões pintadinhos que tia Nastacia lhe déra, o pincel de gomma arabica que lhe servia de vassoura e mil coisas.

Pollegar gostou de tudo, principalmente dum pito velho que tinha sido de tia Nastacia — um pito sem canudo. Gostou tanto que a boneca lhe disse:

— Pois se gosta, leve, que arranjo outro. Mas, com perdão da curiosidade, para que é que o senhor quer esse pito?

— Para brincar de esconder, respondeu o pingo de gen-