MONTEIRO LOBATO
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se offereceram para irem ao castello buscar a varinha. Cinderella acceitou, com um sorriso de allivio.

Minutos depois voltavam elles, cada qual segurando a vara por uma ponta. Tanta foi a alegria da pobre princeza que deu um beijo na testa de cada um.

Emilia quiz por força que Cinderella lhe desse a varinha, ao menos para a segurar por uns momentos. Insistiu tanto que Narizinho teve de ralhar com ella.

— Se continua com esses peditorios, leva um beliscão, está ouvindo? disse-lhe ao ouvido.

A boneca fez bico e emburrou. Rosa Vermelha consolou-a, pondo-a no collo e promettendo mandar-lhe um sacco de presentes cada qual mais lindo. E estava ainda dizendo que presentes seriam, quando a porta se abriu com violencia. Havia entrado um novo personagem, muito afflicto, com ar de quem foge da perseguição de alguem. Entrou, fechou a porta com a tranca e ainda ficou a escoral-a com os hombros, de olhos arregalados de pavor.

— Ali Babá! exclamou Cinderella, que o conhecia dos bailes no castello do principe Codadad.

O jovem voltou-lhe os olhos, como que pedindo que se calasse.

Psit!... Os quarenta ladrões souberam que eu vinha. Armaram uma emboscada ahi no terreiro e por um triz que não me apanham...

— Como? exclamou Narizinho. Pois a Morgiana não matou essa gente toda com azeite fervendo?

— O azeite não estava bem fervendo, respondeu Ali Babá. Queimou só, não deu para matar. Sararam, e agora andam me perseguindo por toda a parte.

Aladino pulou á frente com a sua lampada na mão.

— Espere que já curo esses malandros! disse. Chamo o Genio e elle espalha os quarenta ladrões num pingo de minuto.

— Que horriveis, fuças! dizia Narizinho com os olhos