MONTEIRO LOBATO
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de patinhos. Pega nos coitados e vae logo torcendo o pescoço. Sabe para que? Para assal-os no forno, imagine!...

O pobre patinho levou tamanho susto que teve de se encostar á parede, mais pallido que uma vela de cera — das que não são côr de rosa.

Hansel e Gretel vieram em seguida, sendo muito festejados. Emilia quiz saber noticias daquelle ossinho que mostravam á feiticeira cada vez que ella dizia: "Hansel, mostre o dedinho, para eu ver se está engordando." Emilia achava que como tinham sido salvos por aquelle ossinho, era injustiça não terem feito delle um collar para ser trazido ao pescoço.

Depois chegou a Scheherazade, acompanhada de todos os heroes das "Mil e Uma Noites". Como não pudessem entrar na sala, muito pequena para contel-os todos, tiveram de ficar no terreiro. Narizinho, Emilia e as princezas correram á janella, donde puderam regalar-se de ver o Pescador e o Genio, o Cavallo Encantado, os principes Codadad e Ahmed, Sindbad o Marujo, Morgiana e mais uma multidão de sultões, sultanas, califas e escravos nubios, pretos e lustrosos como jaboticabas.

— Porque não trouxe tambem o passaro Roca? perguntou Emilia a Scheherazade.

— Que idéa! respondeu a princeza sorrindo. Para que esse bruto derrubasse uma pedra em cima do sitio de dona Benta e nos esmagasse a todos como fez com o navio de Sindbad?

Depois vieram os heroes gregos, o valente Perseu que matou a Gorgona, o heroico Theseu que matou o Minotauro e até a cabeça de Medusa, espetada na ponta de um pau, com aquella porção de cobras se mexendo em lugar de cabellos.

Tantos personagens maravilhosos vieram que o terreiro de dona Benta ficou de não caber um alfinete. Narizinho olhava, olhava, no maior extase da sua vida. Só reis e principes e fadas e anões e madrastas bôas e más, e bruxas e