CARA DO CORUJA

Emilia foi abrir. Era uma baratinha de mantilha — a celebre dona Carocha...

— Que é que a senhora quer? indagou Emilia.

— Bôa tarde! disse a velha, fingindo não reconhecer a boneca e sentando-se para descansar. Sou dona Carocha, a que toma conta de todos esses personagens do mundo maravilhoso.

— Já sei disso, observou a menina de mão na cintura, prevendo que ia haver complicações. Mas que é que a senhora quer?

— Vim buscar a lampada de Aladino, a vara de condão de Cinderella e as botas do Gato de Botas. Esses maluquinhos, com a pressa de voltarem, esqueceram-se desses objectos aqui.

Foi um desapontamento geral. Emilia quiz mentir, dizendo que não havia alli, nem bota, nem vara, nem lampada. Narizinho teve impetos de se atracar com a velha. Pedrinho chegou a olhar para o bodoque. Mas dona Benta estava na salinha proxima e dona Benta fazia muita questão que seus netos respeitas sem os mais velhos. Porisso resignaram-se a entregar aquellas preciosidades.

— Pois leve, disse Narizinho contendo-se a custo. Mas fique sabendo que o que lhe vale é vóvó estar ahi na salinha. Se não fosse isso...

Dona Carochinha nada disse. Foi tratando de pegar a vara, a lampada, as botas e até o espelho magico que Branca de Neve déra á boneca, raspando-se dalli a toda a pressa.

Mas antes della chegar á porteira Emilia explodiu.

— Cara de coruja secca! berrou. Cara de jacarepaguá cozinhada com morcego e misturada com farinha de bicho cabelludo! Ahn!...

E botou-lhe uma lingua tão comprida que dona Carochinha achou melhor arregaçar a saia e botar-se na carreira — de medo!...