— E o pau vivente gemeu muito quando você o cortou? quiz saber Narizinho.
— Nada, nada! Não deu o menor signalzinho de vida. Mesmo que um pau de lenha atôa.
— E' extraordinario isto! observou Pedrinho. Não posso comprehender tal phenomeno. O tronco gemeu de cortar o coração e este pedaço do tronco não dá signal de vida. Anda aqui um grande mysterio!...
O visconde, que estava a lêr sua Algebra, piscou mais de dez vezes ao ouvir aquillo. Depois pediu a palavra e lembrou:
— Deus deu vida ao primeiro homem fazendo um boneco de barro e assoprando. Porque não experimenta o assopro, Pedrinho?
— Bôa idéa! exclamou Emilia, que vinha entrando para reclamar o alfinete. Tambem acho que se você assoprar o João Fazdeconta, bem assoprado, elle vive, bem vivinho.
Todos se voltaram para ella, com cara de espanto.
— Que João Fazdeconta é esse, Emilia? Você tem cada uma...
— João Fazdeconta é o melhor nome que acho para este boneco.
— Porque?
— João, porque elle tem cara de João. Todo sujeito desajeitado é mais ou menos João. E Fazdeconta, porque só mesmo fazendo de conta se pode admittir uma feiura dessas. Faz de conta que não é feio. Faz de conta que não tem pé torto. Faz de conta que não tem ponta de prego nas costas. Faz de conta que..
— Chega, Emilia. Já está muito bem explicado, disse Pedrinho com os olhos postos no boneco. Você tem razão. Não pode haver nome mais bem posto!...
Todos acharam a mesma coisa e classificaram a boneca como a melhor "botadeira de nome" do sitio.
— Nesse caso... começou ella a dizer.