MONTEIRO LOBATO
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Paiz das Maravilhas. Elles nunca viram circo e hão de gostar.

— E' no que estou pensando, disse Pedrinho. Acho que o melhor é fazer um convite geral e incumbir o senhor Vento de ser o portador.

E o menino assim fez. Escreveu um lindo convite numa folha de papel de seda, picou o papel em mil pedaços e subiu á mais alta pitangueira do pomar para jogal-as ao vento lá de cima. E jogou em verso, porque o Vento, o Ar, o Fogo e outras forças da natureza só devem ser falados em verso.

Vento que vento frade,
Estas cartas levade,
Norte, sul, leste, oeste,
E direitinho, senão...
Temos complicação!

Narizinho, de nariz para o ar em baixo da arvore, riu-se dos versos delle. Depois lembrou-se de uma coisa.

— Você fez asneira, Pedrinho. Mandou convites para todos e isso é perigoso. Pode apparecer o Barba Azul, o Capitão Hook e outras pestes.

— Não tenha medo. Se algum delles cahir na tolice de apparecer, atiço-lhe o cachorro em cima.

— Que cachorro? Nós não temos nenhum cachorro.

— Mas vamos ter. Vou mandar uma carta a titia Moema pedindo-lhe que nos empreste o Maroto por uma semana. Preciso delle para não deixar que ninguem entre por baixo do panno — e tambem para ser atiçado em Barba Azul, capitão Hook e qualquer outro pirata que apparecer. Que acha desta idéa?

— Serve.

— Nesse caso apare no avental estas lindas pitangas.

E começou a derriçar lindas pitangas, vermelhas e graúdas. Depois desceu, tambem com os bolsos cheios, e sentou-se na raiz da arvore, ao lado da menina.