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O CIRCO DE ESCAVALLINHO

Rosa Vermelha apresentou-se de cabello cortado, moda que as princezas do reino das fadas nunca usaram. Foi reparadissimo aquillo; não houve quem não commentasse.

Depois veio Ali Babá, sem os quarenta ladrões, e Alice de Wonderland, e Raggedy Ann, e quasi todos que existem.

— Que maçada! murmurou Pedrinho. Justamente o que eu fazia mais questão que viesse, não veio — Peter Pan...

— Talvez ainda venha, disse Narizinho. Elle gosta de fazer tudo differente dos outros.

Era hora de começar o espectaculo; o respeitavel publico já estava dando signaes de impaciencia.

— Palhaço! gritava o Pequeno Pollegar volta e meia.

Nisto um cachorro principiou a latir furiosamente lá fóra, como se estivesse dando um péga nalguem. Os espectadores fizeram silencio, de orelhas em pé, á escuta. Ali Babá trepou ao ultimo banco para espiar por uma fresta do panno.

— Que é, Ali Babá? perguntou Aladino, que estava em baixo, arrumando a sua lampada.

— E' Pedrinho que atiçou um cachorro num sujeito muito feio, de barba azul como um céu.

— Barba Azul! exclamaram as princezas assustadas. Cada vez que nós vimos ao sitio de dona Benta esse malvado vem tambem. Não o deixem entrar!...

Houve um reboliço. Aladino pegou na lampada para chamar o Genio. Não foi preciso. Pedrinho surgiu em scena, já vestido de director de circo, e disse:

— Calma! calma! Não se assustem! O monstro já vae longe. O Maroto ferrou-lhe uma dentada na barba, que até arrancou um chumaço! e mostrou um punhado da barba de Barba-Azul.

Todos vieram ver e cada qual levou um fio como lembrança.

— Palhaço! gritou de novo o Pequeno Pollegar.