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O CIRCO DE ESCAVALLINHO

do e espatifando o saiote de gaze. Não sou palhaço de ninguem.

Foi um custo para Narizinho explicar o que havia acontecido e provar que a vaia tinha sido no cavallo e no boneco, não nella. A raivosa Emilia voltou-se então contra o pobre Fazdeconta.

— Estrupicio! Onde se viu tamanho homem andar de fisga nas costas, feito anzol?

— Que culpa tenho? gemeu o feiura tristemente. Nasci assim...

— Pois não nascesse! rematou a boneca, pendurando-lhe na ponta de prego, pela força do habito, o esfrangalhado saiote de gaze.


VI — O DESASTRE


Pedrinho estava numa terrivel afflicção. O visconde havia desapparecido mysteriosamente e o publico não cessava de reclamar o palhaço. O menino não podia explicar a si proprio o acontecimento. Deixara o visconde, já vestido, num canto dos bastidores, promptinho para entrar em scena logo que Emilia acabasse de correr. Mas não havia meio de o encontrar. Isso obrigou-o a alterar a ordem do espectaculo.

— Anda, Fazdeconta, disse elle ao boneco, vá engulindo espadas e comendo fogo emquanto eu campeio o visconde — e empurrou o boneco para dentro do picadeiro.

Fazdeconta entrou com um feixe de espadas debaixo de um braço e uma lata de brazas debaixo do outro. Foi collocar-se bem no meio do picadeiro, num tapetinho que havia. E começou a engulir espadas. Fez o serviço tão bem feito que o publico esqueceu a feiúra delle, rompendo em palmas. Depois de engulida a ultima espada, começou a comer fogo, e glut, glut, glut, deu conta de todas as brazas da lata. Ao comer a ultima, porem, esbarrou nella com a ponta do nariz