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A PENNA DE PAPAGAIO

— E falam mesmo! exclamou Emilia. Falam tal qual uma gente...

O lobo parece que não esperava por aquella resposta, porque engasgou e tossiu tres vezes. Depois disse:

— E não é só isso. Nós temos contas velhas a justar. O anno passado o senhor me andou dizendo por ahi que eu tinha cara de cachorro ladrão. Lembra-se?

— Não é verdade, Lobencia, porque só tenho tres mezes; o anno passado ainda estava no calcanhar da minha avó.

— Toma! disse Narizinho em voz baixa. Por esta o lobo não esperava. Quero só ver o que diz agora.

O senhor de Lafontaine, lá na moita, escrevia, escrevia...

Aquella resposta atrapalhara o lobo, que, alem de mau, era curto de intelligencia ou, para ser franco, burro. Tossiu mais umas tossidas e por fim achou a resposta.

— Sim, rosnou elle, mas se não foi você foi seu irmão mais velho, o que dá na mesma.

— Como pode ser isso, Lobencia, se sou filho unico?

Vendo que com razões não conseguia vencer o carneirinho, resolveu empregar a força.

Pois se não foi seu irmão, foi seu pae ou avô, está ouvindo? e avançou para elle, de dentes arreganhados. E já ia fazendo — nhoc! quando o senhor de Lafontaine pulou fóra da moita e lhe pregou uma bengalada no focinho.

Mestre lobo não esperara por aquillo. Metteu o rabo entre as pernas e se sumiu floresta a dentro para nunca mais.

Grande alegria entre a meninada. Emilia correu a brincar com o carneirinho, emquanto os outros se dirigiram para o lado do senhor de Lafontaine.