e a de Pedrinho valem muito para mim, porque em ambas vejo grande sinceridade.
Emilia não tirava os olhos da cabelleira do fabulista. O coitado morava sozinho naquellas paragens e com certeza nem tesoura tinha, pensava ella. De repente teve uma lembrança. Abriu a canastrinha e, tirando de dentro a perna de tesoura, offereceu-a ao sabio, dizendo:
— Queira acceitar este presente, senhor Lafontaine.
O fabulista arregalou os olhos, sem alcançar as intenções da boneca.
— Para que quero isso, bonequinha? disse elle.
— Para cortar o cabello, respondeu Emilia.
— Oh, exclamou o fabulista, comprehendendo-lhe afinal a idéa e sorrindo. Mas não vê que a tua tesoura tem uma perna só?
Emilia, que não se atrapalhava nunca, respondeu promptamente:
— Pois corte o cabello dum lado só.
Narizinho interveio. Puxou-a dalli, dizendo ao fabulista que não fizesse caso visto como a boneca soffria da bola.
Nisto o menino invisivel, que tinha estado longe, approximou-se. O senhor de Lafontaine, ao ver aquella penna fluctuando no ar, ficou intrigado. Poz-se a olhar, com rugas na testa, sem poder descobrir o mysterio.
Emilia deu uma risada caçoista.
— O senhor, que é um sabio da Grecia, adivinhe, se for capaz, que penna de papagaio é essa sem papagaio atraz?
O fabulista olhava, olhava e cada vez comprehendia menos.
— Não posso, disse elle. E' um perfeito mysterio para mim.
— Pois eu sei, disse Emilia. E' a marca do menino invisivel, o Penninha.
Está claro que o fabulista ficou na mesma. Foi preciso