262
A PENNA DE PAPAGAIO

e a de Pedrinho valem muito para mim, porque em ambas vejo grande sinceridade.

Emilia não tirava os olhos da cabelleira do fabulista. O coitado morava sozinho naquellas paragens e com certeza nem tesoura tinha, pensava ella. De repente teve uma lembrança. Abriu a canastrinha e, tirando de dentro a perna de tesoura, offereceu-a ao sabio, dizendo:

— Queira acceitar este presente, senhor Lafontaine.

O fabulista arregalou os olhos, sem alcançar as intenções da boneca.

— Para que quero isso, bonequinha? disse elle.

— Para cortar o cabello, respondeu Emilia.

— Oh, exclamou o fabulista, comprehendendo-lhe afinal a idéa e sorrindo. Mas não vê que a tua tesoura tem uma perna só?

Emilia, que não se atrapalhava nunca, respondeu promptamente:

— Pois corte o cabello dum lado só.

Narizinho interveio. Puxou-a dalli, dizendo ao fabulista que não fizesse caso visto como a boneca soffria da bola.

Nisto o menino invisivel, que tinha estado longe, approximou-se. O senhor de Lafontaine, ao ver aquella penna fluctuando no ar, ficou intrigado. Poz-se a olhar, com rugas na testa, sem poder descobrir o mysterio.

Emilia deu uma risada caçoista.

— O senhor, que é um sabio da Grecia, adivinhe, se for capaz, que penna de papagaio é essa sem papagaio atraz?

O fabulista olhava, olhava e cada vez comprehendia menos.

— Não posso, disse elle. E' um perfeito mysterio para mim.

— Pois eu sei, disse Emilia. E' a marca do menino invisivel, o Penninha.

Está claro que o fabulista ficou na mesma. Foi preciso