272
A PENNA DE PAPAGAIO

Mas o pote não cahiu.

Laura continuou:

— Faço uma grande criação de vaccas. Depois vendo as vaccas e compro uma casa e um automovel. Fico morando na casa e vou passear á villa de automovel. Lá encontro um lindo moço que se apaixona por mim. Caso-me com elle e vou morar na cidade.

Emilia estava na maior afflicção. A Menina do Leite já passara todos os pontos em que o pote cae. Já estava casada e morando na cidade. Continuando assim, a fabula ia ficar sem geito. A boneca não poude conter-se por mais tempo.

— Páre, senhorita e derrube o pote de leite, se não a fabula fica sem pé nem cabeça! berrou.

Laura deu uma gargalhada.

— Já se foi esse tempo, bonequinha! Isso me aconteceu uma vez, mas não acontece outra. Arranjei esta lata de metal, que fecha hermeticamente, para substituir o pote quebrado. Agora posso sonhar quantos castellos quizer, sem receio de que o leite se derrame e meus sonhos acabem em desillusões. Adeus, meninada, adeus!

Foi um desapontamento geral.

— Não valeu a pena pararmos para ver só isto, disse Pedrinho. Vamos depressa á montanha. Lá, sim, as fabulas são sempre as mesmas. Quero ver o leão.

Nisto avistaram a montanha onde estava a caverna do rei dos animaes. Dalli por deante tinham de ir com todas as cautelas, na ponta dos pés, para não attrahirem a attenção dalguma féra.

Chegaram ao terreiro que havia em frente da caverna. Ossos dos animaes devorados pelo leão e um cheiro de carniça no ar mostravam que não houvera engano, era alli mesmo.

— Sei duma fresta na rocha, disse Penninha, donde