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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

III — AS ARVORES GEMEAS


Não é facil lidar com o pó de pirlimpimpim. A gente tem de cheiral-o na quantidade certa, nem mais, nem menos, senão vae parar para lá ou para cá do ponto a que pretendia ir. Pedrinho, sem pratica ainda, errou na dóse deu-lhes pó demais, e isso os fez irem parar numa terra muito differente do Paiz das Fabulas.

Em vez do lindo campo de velludo verde, cortado pelo rio, á beira do qual os dois fabulistas ficaram a discutir a origem das fabulas, acharam-se num verdadeiro deserto africano, com enormes rochas negras dum lado e o mar de outro.

Nem floresta, nem vegetação nenhuma — além de duas arvores gemeas, á cuja sombra o burro parára.

Assim que pulou em terra, Pedrinho correu os olhos em torno.

— Errámos, vovó! disse elle. Isto nunca foi o Paiz das Fabulas! Está-me cheirando a alguma das terras das Mil e Uma Noites...

— E agora? perguntou a velha, já com medo. Melhor voltarmos. Estou sentindo uma coisa exquisita no coração...

— Sim, podemos voltar, concordou o menino, mas primeiro temos de tomar folego e esperar que passe a sua tontura.

Dona Benta concordou, suspirando, e sentou-se numa das raizes da arvore, a se abanar com o lenço, muito queixosa de falta de ar.

Pedrinho amarrou o burro pelo cabresto e poz-se a examinar o sitio.

— Que arvores tão exquisitas! disse erguendo os olhos para cima. Os troncos sobem em linha recta e são mais grossos no alto do que em baixo!...

— E repare a copada, disse a menina, tambem de nariz