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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

mundo. Póde, com uma bala, cortar o cabresto do burro e salval-o. Resta que eu ache o barão em casa...

Pedrinho resolveu ir procurar o castello. Tomou uma pitada de pó de pirlimpimpim e cheirou-o, depois de recommendar:

— Não me sáiam deste ponto. Dou um pulo ao castello é já volto.

— Pelo amor de Deus, Pedrinho, não nos abandone neste maldito deserto! implorou a nervosa velha. Vamos atraz desse barão todos juntos!...

Era tarde. Pedrinho já havia cheirado o magico pó, cujo effeito era instantaneo. Começou a virar uma fumaça de gente, breve desapparecendo da vista de todos.

Dona Benta abanava-se, abanava-se, cada vez mais afflicta. Aquillo lhe parecia o fim do mundo. Narizinho procurou consolal-a.

— Não seja tão boba, vovó! Não tenha medo, que nada adeanta. Faça como eu, que estou fresca da silva. Ha tanto tempo que com Pedrinho vivo nesta vida de aventuras, que já não sei ter medo. Seja o que fôr que appareça, leão, cuca, sacy, onça ou passaro Roca, a gente dá um geito e no fim sae vencendo. Para que tremer assim, justamente agora que o perigo passou?

— Não posso, minha filha! Não está em mim! Quando me lembro que uma creatura pacata como eu, de mais de setenta annos, esteve sentada no dedo do passaro Roca, meu coração pula dentro do peito como se fosse um cabrito...

Até Emilia caçoou da coitada.

— Tamanha mulher! Tremendo porque esteve sentada num pé de gallinha! Pois eu até no bico desse tal passaro era capaz de dormir um somno bem descansado.

— E' que você é inconsciente, Emilia. Se eu fosse de panno, era provavel que tambem não tivesse medo. Mas sou de carne...