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O PÓ DE PIRLIMPIMPIM

disse o menino. Bala, seja do calibre que fôr, é o mesmo que poeira para tamanho bicho.

— Sei disso, e porisso não atiro com chumbo ou bala. Atiro com caroços de cereja. Esses caroços germinam na carne do passaro e vão crescendo até virarem cerejeiras. Vou assim transformando o passaro Roca em pomar. Um dia o peso das arvores fica demais para suas forças e elle cessa de voar. Creio que já plantei uns cem pés de cereja no lombo do passaro Roca!...

— Oh, exclamou Pedrinho, muito melhor seria atiral-o com sementes de jequitibá.

O barão, que nunca ouvira falar em tal arvore, franziu a testa. Pedrinho explicou:

— E' uma arvore que fica enorme, da grossura da mais grossa pipa. Na minha opinião, com meia duzia de jequitibás plantados a tiro no passaro Roca, elle perde a scisma de voar pelo resto da vida...

O senhor de Munkausen muito admirou a esperteza de Pedrinho, que ficou de lhe mandar sementes de jequitibá pelo primeiro portador. No sitio de dona Benta havia um enorme.

Nisto chegaram ao ponto onde dona Benta morria de medo ao lado de Narizinho e da boneca. O barão saudou-a cortezmente, á moda dos allemães.

— Obrigada por ter vindo em nosso soccorro, senhor de Munkausen! disse dona Benta, retribuindo a cortezia. Estou aqui mais morta do que viva, de medo daquelle monstro que lá está voando no céu. Imagine, barão, que estive, muito fresca da minha vida, sentada, como pata chóca, no dedo delle!...

— Sossegue, minha senhora, que cá estou para defendel-a. Móro num castello aqui perto, onde Vossa Excellencia poderá repousar e acalmar os seus nervos. Já dei ordem aos meus creados para que a venham buscar na minha caleça. E esta menina? disse, mostrando Narizinho.

— Minha neta. Uma damnada! Não tem medo de coisa nenhuma. Está aqui a rir-se da pobre vovó medrosa...