passageiras: desvairada um momento, a literatura volta, trazida por força irresistível, ao belo, que é a verdade.
Se disserem, que alguma vez copiam-se da natureza e da vida, cenas repulsivas, que a decência, o gosto e a delicadeza não toleram — concordo. Mas aí o defeito não está na literatura, e sim no literato; não é a arte que renega do belo; é o artista, que não soube dar ao quadro esses toques divinos que doiram as trevas mais espessas da corrupção e da miséria.
Nas convulsões da matéria humana, no tripúdio dos vícios, na fase a mais torpe da existência social, há sempre ao fundo do vaso uma inteligência e um coração: é a razão e o sentimento em tortura; é a luz e o perfume a apagar-se: são as cores da palheta. Se com elas o pincel não desenha sobre o fundo negro um quadro harmonioso, é que falta-lhe a inspiração ou a mestria; os olhos não sabem ver, ou a mão não sabe reproduzir.
Censurem pois as ASAS DE UM ANJO porque lhes falte uma ou outra dessas condições: porque ou os reflexos ou as refrações das cenas sejam imperfeitas. Mas não censurem nela a tendência da literatura moderna — apelidando-a de realismo.
Sobre a acusação de imoralidade que lançaram à comédia, e que afinal traduziu-se em uma proibição