HELENA – Isso mesmo. O Fernando por pedido da mulher, veio à cidade de propósito para comprar um bilhete de camarote do teatro lírico. Os cambistas lhe fizeram dar cem mil-réis por um da Segunda ordem... Número?...

CAROLINA – Não me lembro.

HELENA – Como já era tarde, jantou na cidade e escreveu à mulher dizendo que se aprontasse porque tinham o camarote. Na ida passou por aqui e entrou. Começamos a conversar, falou-se de teatro; Carolina estava morrendo por ir... Enfim para encurtar razões, deu-lhe o bilhete.

ARAÚJO – Que tratante!

HELENA – Ao contrário um homem delicado!... Mas o melhor é que saindo daqui, e não sabendo que desculpa havia de dar à mulher, não foi à casa, nem lembrou-se da carta que tinha escrito. Ora, a sujeita vendo que ele não ia, meteu-se no carro e largou-se para o teatro.

ARAÚJO – Adivinho pouco mais ou menos o resto.

HELENA – Não adivinha, não! Quando o bilheteiro ia abrindo a porta, chegou Carolina que ia comigo, e disse: — Este camarote é meu. — A mulher do Fernando respondeu: — Não é possível; meu marido o comprou hoje para mim. — O que havia ela de replicar? — Foi seu marido mesmo quem mo deu; aqui está o bilhete que por sinal custou-lhe cem mil-réis.

ARAÚJO – Ela disse isto?...