CAROLINA – E que zombem, não faz mal. Toda a criatura boa tem o seu fraco; assim toda a mulher conserva sempre um cantinho puro onde se esconde a sua alma.

MENESES – Estás bem certa que tens uma alma, Carolina?

CAROLINA – Talvez me engane; é possível. Mas eu guardo-a com tanto cuidado!

ARAÚJO – Aonde, nalguma caixinha?

CAROLINA – Justamente! Numa caixinha de charão... Vai ver, Helena; está no meu guarda-vestidos. (Dá-lhe as chaves.) No meio de todas as minhas extravagâncias, de todos os meus prazeres, eu sentia uma pequena parte de mim mesma, que nunca ficava satisfeita; chamei a isto minha alma, tive pena dela, fechei-a dentro dessa caixa, e disse-lhe que esperasse até um dia em que seria feliz.

(Helena volta com a caixa.)

ARAÚJO – Ah! É esta?

MENESES – E de que maneira pretendes dar-lhe a felicidade?

CAROLINA – Não sei; mas como o dinheiro é tudo, fiz uma cousa: dividi o que eu tinha e o que viesse a ter com a minha alma. Voltava de uma ceia onde me tinha divertido muito; metia dentro desta caixa todo o dinheiro que possuía, para que um dia o espírito tivesse um igual divertimento. As minhas joias depois de usadas uma vez, se escondiam aqui dentro; enfim a cada prazer que eu gozava, correspondia uma esperança que guardava.