CAROLINA – Mas o que não compreende, nem pode compreender, é a tortura que sofre essa mulher por causa do seu próprio erro. Para ela a beleza é tudo! É o luxo, é a estima, é a vaidade, é o sustento, é a existência enfim! Com que susto lança ela os olhos sobre o espelho a todo o momento para interrogá-lo?... E com que ansiedade espera a resposta muda desse juiz implacável que pode dizer-lhe: “Tu já não és bonita!” A menor sombra, a palidez, o cansaço de uma noite de vigília, lhe parecem a velhice prematura que vem destruir as suas esperanças, e condená-la à miséria.

LUÍS – Com efeito deve ser cruel!

CAROLINA – E quando chega o dia em que a moléstia lhe rouba as cores, a formosura, a mocidade; e da moça bonita que todos admiravam faz uma múmia; quando vem a pobreza, e é preciso para não morrer de fome... vender-se... Oh! É horrível!... Preferia, Luís, vender o meu sangue gota a gota!...

LUÍS – Sossegue, Carolina! esse horror que lhe causam as faltas que cometeu, são já o sinal do arrependimento; ele lhe dará a força para repelir essa existência.

CAROLINA – Se fosse possível!

LUÍS – Como! Que diz?

CAROLINA – Por mais forte que seja a vontade, Luís, há ocasiões em que a necessidade a subjuga! Quando sofrem-se privações, não se reflete, não se pensa...