Margarida, boa e carinhosa mãe, expia a falta de zelo com que vigiou a flor de inocência de sua filha e a imprudência com que deixou que a larva da perdição, Helena, se aproximasse da planta mimosa.

Finalmente, Vieirinha e Helena, dualidade monstruosa, que pulula na última sentina da sociedade, têm também a sua missão de moralidade; ambos mostram que o vício é contagioso, e que a criatura, quando partilha a existência de certa classe de gente, identifica-se com ela; ambos são a encarnação da impudência, com a simples diferença dos sexos; para esses, a quem a regeneração não é mais possível, a punição é o riso e o desprezo que acompanham as suas ações; eles formam a parte cômica da obra.

À vista deste esboço das minhas personagens haverá quem duvide da alta, da escrupulosa moralidade das Asas de Um Anjo? Haverá quem reprove as lições terríveis que em cada página, em cada cena fazem o espectador estremecer de horror ou de indignação?

Não creio; um espírito, ainda o mais prevenido, não pode achar imoral a ação da comédia; o vício se apresenta, é verdade, mas para ser corrigido; e como já disse em princípio, não sou eu que o apresento; é a própria sociedade.

Com efeito a virgindade a mais delicada, a inocência a mais susceptível,