— 156 —

Pouco a pouco a innocencia e a verdade de Emiliana forão entrando na alma do Vice-Rei.

Mas em quanto o conde da Cunha ouvia com interesse animador a filha do carpinteiro, uma scena violenta se passava no saguão do palacio.

Alexandre Cardoso chegou; e, ao entrar no saguão, esbarrou com Marcos Fulgencio, que, passeando, esperava Emiliana.

O ajudante official da sala estremeceu, suppondo que o carpinteiro vinha fallar ao Vice-Rei, e dirigio-se á elle com fingida amabilidade:

— Marcos Fulgencio! estimo ver-te: a tua casa estará acabada dentro de quinze dias, e...

Alexandre Cardoso estacou, vendo os traços decompostos do rosto de Marcos.

As naturezas nobres, generosas e rudes não sabem fingir: o carpinteiro olhava Alexandre Cardoso com raiva ameaçadora, e no convulsar dos labios, mostrava-lhe alvejantes os dentes cerrados.

— Que tens, Marcos Fulgencio? que aspecto feroz é esse? perguntou o soberbo official, sorrindo com despreso.

— Siga seu caminho! murmurou rouca e sinistramente o carpinteiro, tendo já a cabeça perdida.