enganos, com que sempre sonha o desejo.

Que pode obrigar-vos (lhe disse Antionor) a voltar tão apressadamente a Esparta? Não me obrigam os parentes (lhe respondeu), porque dos que vive só conservo as imagens na memória para instrumentos da minha mágoa. Não me levam as amizades; porque como é difícil conhecer as verdadeiras, vivo conforme a vontade, que de todas me separou, porque não fosse enganada; não me chamam os bens, porque tenho experimentado que o maior de todos é depois de os possuir perdê-los com igual semblante; nem me levam negócios, ou dependências, porque depois da desgraça de perder tudo, tenho a felicidade de não desejar cousa alguma, conhecendo que é mais importante servir aos Deuses no estado, que eles determinam, pois são as felicidades uma vaidosa lisonja do tempo, que tem pronta a vontade para descuidos, e loucuras, sendo de todos bem aceitas, enquanto não tem inteiro conhecimento ou do pouco, que duram, ou do muito, que é estreita a vida para possuí-las; e ainda que estas, enquanto não chega a morte, pintam a vida com as mais agradáveis cores, apenas os dias se terminam, mostram entre sombras, que as que foram estátuas para idolatrias, se transformam em obeliscos para sentimentos, sendo