te atreveste a falar-me? A justa admiração (lhe respondeu Belino) que me causou o achar-se um tão nobre alegria em tão lastimosa figura, me obrigou afalar-te, para ver se aos meus males podia também achar remédio. Eu padeço mais que tu, pois é interno o meu mal; e como o fugir das gentes é hoje o que mais me convém, consentem-me na tua companhia, que a aspereza da vida, que aqui fazes, mais me agrada, que os regalos, de que fujo. Se te não é asquerosa (lhe respondeu) a figura, que em mim vês, repartirei contigo o maior bem na tranqüilidade que logro, e como a noite já estava adiantada, se acomodou Belino para descansar, encostando a cabeça sobre as raízes de um tronco; e para a outra parte o bom velho, que quando o despertavam as dores, principiava a cantar louvores a Júpiter; e invocava os Semideuses dos bosques, para que não consentissem que Esculápio, filho de Apolo, fosse ali a curá-lo, pois desejava que tivesse mais exercício a sua paciência.

Em amanhecendo, vieram uns Pastores, que vendo o belo mancebo, que em Belino se lhes representava, o levaram a ver a sua Aldeia, donde voltou obrigado à sinceridade, com que o trataram; e desejando saber quem era o velho enfermo, lhe disse: