de valido. Principiaram no Mundo as guerras, por haverem muitos Deuses, muitas leis, e muitos Reis; e antes de as haverem, moravam os homens em os campos, comiam frutas, dormiam em covas, andavam descalços, e viviam do comum; eu quero só servi-vos, como até agora, acompanhando os vossos rebanhos no campo, sustentar-me das frutas silvestres, e reparar-me dos rigores do Inverno debaixo dos rochedos, já que o determinam os Deuses; porque o guardando a melhor lei, pobre, e descalço viverei em paz, que esta sempre nas inquietações da Corte. Oh quanto é melhor ouvir o que lá se passa, que o viver nela! porque os que não podem valer, estão esquecidos; os que muito valem, são perseguidos; os pobres não têm que comam: os ricos, porque o são, não os deixam comer sem sustos; são muitos os queixosos, e poucos os contentes; fazem muitos o que querem, e poucos o que devem; enfim todos murmuram, e quase todos seguem os mesmos erros, que condenam. Bem sei eu que os que procuram introduzir-se para validos, nem merecem ver a Majestade, pois estudam só lisonjeá-la, para fazer o partido de suas dependências; e que os Soberanos não podem com os olhos descobrir todas as luzes da verdade, porque trabalham em escurecê-la os que