lazer, se conhecermos que nom guardamos em algua virtude u meyo, e nos derribamos a cada huu dos cabos em que ha erro, que assy cedo como bem podermos nos devemos lançar per alguu tempo a outra parte, em tal guisa que per custume da- quel, e desavesamento da outra que primeiramente seguva- mos , nossa razom possa conhecer, e o coraçom possuir aquello dereito stado que naquella virtude devemos aver. E quando algua cousa de cavallo quisermos fazer, se o nosso coraçom por seer em ello muyto seguro nom se quer prover do que lhe compre, o desejo de nossa saúde e proveito nom consente tam sobeja segurança, e o faz proveer de todo aquello que lhe he necessário. E assy quando este desejo me requere que ponha sobeja delligencia em me guardar dos perigos que me podem acontecer, o coraçom nom mo consentira que o faça, sentindo que por ello me podem prasmar. E antre estes dous contrai- ros,'e debates que em cada huu de vos muvtas vezes se fazem , o boo entender julga o que dereitamente avemos seguyr, nom satisfazendo de todo aa sobeja segurança, que o coraeom quer mostrar, nem ao proveito de que o desejo se quer proveer; e conhecendo de hua parte, que pois avemos razom, que per ella todos nossos feitos devem seer regidos, e nom leixar as cousas sobre ventuira; e da outra conhecendo quam pouco he nosso saber e poder, e como toda nossa guarda, por muvto que nos avvsemos,na maão do Senhor principalmente he, averemos esta temperança : nom duvydarmos de fazer todallas cousas que a nosso stado , ydade e desposiçom perteencem, segundo as fazem nossos semelhantes que por boos som conhecidos, sa- bendo que o principal carrego de nos guardar he daquel que cada huu dia de perigos sem conto nos guarda , e nos porem, nom desemparando a husança da razom, nos avysaremos de todo o que bem podermos, nom avendo em nos o principal