primavera, com sua cúpula de ramagens e grinaldas, quando apenas lhe era dado palpar a robustez de seus frutos? Como percorrer suas campinas, recamadas de verdura, retalhadas pelos rios, que aí estão rolando as águas sobre areias de ouro e diamantes, ou vingar as suas serranias arrepiadas de rochedos, coroadas de bosques floridos, não tendo por guia senão o bastão de Homero? Como admirar suas cascatas, que se despenham, que se quebram, que espumam de peneida em penedia até se perderem em seus fundos vales, quando mal lhe era dado ouvir o sussurro de suas águas? Era como o cantor da primavera, que a invoca, que a chama, que lhe dedica seus hinos, porém que, sem esperança de vê-la, termina sempre pelo grito doloroso da alma, que se debate no meio das trevas, em que a retém a matéria, privada da luz:12
Mas que posso eu fazer? Fraca, nas trevas,
Sem gozar esse dom, que é quase a vida?
Sim, a vida o que é? É força, é gozo,
É a luz, que ilumina o espaço imenso...
Quem não goza a brilhante primavera,
Aquele, a quem diante dos seus olhos
Todas as flores tem a cor da noite,
Para quem tintos são todos os frutos
Nessa cor tenebrosa, que me cerca,
Que não distingue as cores dessas aves,
Que os ares cruzam, que nos mares pousam;
Que as estrelas não vê, que não avista