XV

Assim por longas horas abstraída
Deixava o caro esposo na ansiedade,
Se era sono, em que estava suspendida,
Se era efeito da cruel enfermidade;
Ora suspeita que perigue a vida,
Ora na celestial tranqüilidade,
Crê que do claro empíreo habitadora
Imortal sobre o céu reinando mora.

XVI

Até que, a si tornada docemente,
Corre a turba coa vista em grato giro;
E, como quem esta aura ingrata sente,
Rompe os longos silêncios dum suspiro.
"Oh! doce (disse), oh! pátria permanente!
Que escuro ar parece que respiro!
Feliz quem contemplando o céu formoso,
Vive no seio do celeste esposo!"

XVII

Pasmado Diogo e a multidão que a ouvia,
Calam todos no assombro de admirados:
Nem já duvidam que visão seria
Em que ouvira os mistérios revelados.
"Quando ocultos segredos Deus confia,
Não devem ser (diz Diogo) propalados;
Mas, se em parte, como este, é manifesto,
Temerário não sou, se inquiro o resto.