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para abrir estradas e canaes, agarrar no leme das embarcações de vapor para subir rios, sentar-me na cadeira de lente para instruir a mocidade, e finalmente correr incessantemente de huma extremidade á outra de vosso immenso territorio para enxertar em toda parte a vida e a civilisação : isto não fiz; com a constituição que eu dei cuidei que tudo estava feito, e que podia descançar sob sua egide á moda dos Reis que nascêrão em tão feliz posição: era pedir sombra á arvore apenas plantada, e que ainda não criára raizes e folhagem.

Às preoccupações do nascimento, a falta de educação e de experiencia, as allucinações da juventude sequiosa de delicias, e prazeres, a fallaciosa lingoagem dos Cortezãos e da Diplomacia, a falta de moral e pouca esphera dos meus primeiros Conselheiros, tudo me desviou da estrada de gloria, e do liberalismo em que de entrada me lançàra com enthusiasmo e candura. Sirva-me esta confissão de desculpa, e ao mesmo tempo afiance o solemne protesto que eu faço perante o Todo Poderoso, a quem vou render contas, de que jamais o amor da liberdade, e a dedicação ao Brasil deixàrão de existir no meu coração. Embora a irritação dos partidos, e a politica me tenhão indigitado como inimigo do Brasil, embora me tenhão accusado de aspirar à tyrannia! Eu tyranno? Brasileiros! nenhum de vós, no fundo da sua alma, o tem acreditado Quem vos deu a Independencia e a Constituição, quem não sacrificou vida, usurpou propriedade, ou violou lei alguma no decurso de mais de cinco annos em que a Dictadura de facto esteve nas suas mãos, acaso mereceo o opprobrieso titulo de tyranno? Eu inímigo do Brasil? Quem vendo a sua administração desmoronada, e perdendo as esperanças de fazer a vossa felicidade