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CARTAS DE INGLATERRA

Arabi, assim glorificado pelo califa, resplandeceu aos olhos do mundo mussulmano com um prestigio maior; Dervich-Pachá, um instante aturdido, redobrou de duplicidade: — e foi então entre Dervich, e Arabi, e o Khediva, e o Sultão, e as potencias, e os consules, e os pachás, e os coroneis, uma intriga tão emaranhada que eu prefiriria fazer-lhes um resumo lucido dos vinte e cinco volumes das Façanhas de Rocambole, do que penetrar na espessura inextricavel d’este embroglio turco-europeu — uma d’essas intrigas fastidiosas que devem enervar, fazer chorar de séca e de fadiga a Providencia, se ella, como affirmam philosophos que estão na sua intimidade, é obrigada a observar minuciosamente todos os successos humanos! Quanto o homem com a sua tolice deve, por vezes, fazer bocejar Deus!

Durante estes successos, emquanto a Europa chafurdava no atoleiro diplomatico, as duas esquadras de França e de Inglaterra, lá continuavam deante de Alexandria manifestando. Do romper do sol ao occaso, immoveis nas aguas calmas, com as camisolas da marujada seccando nas vergas, alli estavam manifestando...

Os officiaes repousavam de vez em quando d’esta rigida attitude de manifestação arranjando um pic-nic em terra, indo fazer um robber de whist ao club inglez, ou organisando, sob as sombras dos jardins de Ramleh, honestas partidas de cricket.