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CARTAS DE INGLATERRA

parizienses invadiam as Tulherias, rasgavam á ponta de sabre o setim das poltronas...

Collocou-se a população de Alexandria, por taes excessos, fóra da humanidade? Os inglezes dizem que sim; eu digo que nós teriamos feito o mesmo, nós europeus, christãos e podres de civilisação. Se, quando os allemães estavam bombardeando Pariz — os parizienses vissem no centro da sua cidade um bairro exclusivamente allemão, compacto, monumental, luxuoso, erguido pelo dinheiro que o allemão ganhára a explorar a França, — resistiriam os parizienses, os mais civilisados dos mortaes, a besuntal-o de petroleo e fazel-o flammejar por uma bella noite de inverno?

A resposta é facil, lembrando-nos que, quando por seu turno o snr. Thiers, esse homunculo de estado, bombardeou Pariz, os parizienses apressaram-se a destruir o palacete do snr. Thiers.

Foi Arabi que ordenou o incendio de Alexandria? Não, evidentemente. Arabi não é um patriota selvagem, do typo d’esse Rostopchin que queimou Moscou: é um fellah fino e sagaz, que sabe que na Europa, na Inglaterra sobretudo, onde affectamos todos uma sensibilidade humanitaria, nada desacredita mais que uma fria crueldade. Basta observar a attitude polida, quasi paternal que elle toma com os prisioneiros inglezes — o guarda-marinha Chair, por exemplo.