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CARTAS DE INGLATERRA
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sem que ficasse perdido um oh! ou um ah! e revistas, esmiuçadas, zeladas como se tivessem cahido dos labios de Socrates ou de Christo prégando outro Evangelho.

Este simples serviço custa por anno ao Times milhares de libras — mas dá-lhe a vantagem de ser elle a acta official do verbo publico da Inglaterra. Todos os jornaes da Europa assim o reconhecem: quando se discute um discurso do Sr. Gladstone, uma conferencia do professor Huxley ou uma predica do arcebispo de Canterbury, tem-se presente, como texto sagrado, o texto do Times. Um orador póde negar a incorrecção de um adjectivo, a violencia de uma apostrophe, quando a apostrophe ou o adjectivo tenham apparecido nos resumos rapidos de outro jornal: nunca, quando hajam apparecido nas columnas infalliveis do Times. Sabe-se a despeza, o desvelo, a minuciosidade, empregada para obter a exactidão — e essa exactidão nunca é contestada.

Quando o Sr. Gladstone, na campanha eleitoral da Escocia, soltou essa famosa invectiva contra o imperio dos Hapsburgos, — o protesto cortez do embaixador d’Austria era fundado em citações do Times. Um orador que, querendo deixar um monumento solido da sua arte, publique os seus discursos em volumes — collige-os do texto seguro do Times. O Times tem aqui o valor d’uma reproducção photographica.