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CARTAS DE INGLATERRA

rhetorica! Depois da rhetorica atulhamol-a de logica (de logica, Deus piedoso!). E assim vamos erguendo até aos céus o monumento da camelice!

Pois bem; eu tenho a certeza que uma tal litteratura infantil penetraria facilmente nos nossos costumes domesticos e teria uma venda proveitosa. Muitas senhoras, intelligentes e pobres, se poderiam empregar em escrever essas faceis historias: não é necessario o genio de Zola ou de Thackeray para inventar o caso dos tres velhos sabios de Chester. Ha entre nós artistas, de lapis facil e engraçado, que commentariam bem essas aventuras n’um desenho de simples contorno, sem sombras e sem relevo, lavado a côres transparentes... E quantos milhares de creanças se fariam felizes, com esses bonitos livros — que, para serem populares e se poderem despedaçar sem prejuizo, devem custar menos de um tostão!

Eu bem sei que esta ideia de compôr livros para creanças faria rir Lisboa inteira. Tambem, não é a Lisboa que eu a offereço. Lisboa não se occupa d’estes detalhes.

Lisboa quer cousa superior; quer a bella estrophe lyrica, o rico drama em que se morre de paixão ao luar, o fadinho ao piano, o saboroso namoro de escada, a endeixa plangente, a bôa facadinha á meia noite, o discurso em que se cita o Golgotha, a andaluza