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CARTAS DE AMOR

sinto em estado de poder rasgar e queimar os penhores do teu amor, que tam extremosamente queridos tinha; mas dei-te a conhecer tanta fraqueza, que jàmais terias acreditado que eu chegasse a ser capaz de uma tal extremidade…

Quero assim comprazer-me em tôda a pena, que experimentei, separando-me dêles e causar-te ao menos qualquer agastamento.

Confesso com vergonha minha e tua, que me achei mais apegada do que quero dizê-lo, a estas ninharias, e que senti serem-me de novo necessárias tôdas as minhas reflexões para desembaraçar-me de cada uma em particular, quando já me lisonjeava de não ser-te mais afeiçoada.

Mas tudo se consegue, sendo aí a vontade ajudada de tantas razões.

Entreguei-as a D. Brites… Quantas lágrimas me custou esta resolução!

Depois de mil agitações, mil incertezas que tu não conheces e de que não te darei conta seguramente, pedi-lhe com as maiores instâncias de não me falar mais nelas, de não restituir-mas, ainda quando lhas pedisse sòmente para as ver uma derradeira vez, e de enviá-las finalmente, sem dar-me aviso.

Só conheci bem o excesso do meu amor, depois que quis fazer todos os esforços para curar-me dêle, e creio que não teria ousado tentá-lo, se tivesse antevisto tamanhas dificuldades e tantas violências.

Estou persuadida que teria sentido perturbações menos desagradáveis, amando-te, ingrato como és, do que despedindo-me de ti para todo sempre.

Experimentei que te queria menos do que a minha paixão, e tive extraordinário trabalho em combatê-la,