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que agora vos fazem olhar com odio, são os mesmos; de cujas mãos recebestes o estimável bem da liberdade civil. Recordai, Cidadãos, que estes Militares, quando virão, que o Governo desta Corte illudia astutamente os benefícios da Constituição, concedendo-vos como huma graça o que por direito vos devia, levantou oulra vez sua voz no dia 5 de Junho para pedir a observancia das Bases da Constituição da Monarquia, porque ellas são a pedra fundamental de todos os Governos Livres. Não he verdade, que desde aquelle dia gozais da Liberdade da Imprensa, e de outras Instituições dos Povos Livres? Não são elles os que tem arrancado da oppressão o genio viril de vossos Pais, amortecido já com opezo da escravidão? .... eu appello ao testemunho da vossa própria consciência. Em vossos corações achareis a semente da Liberdade, plantada por vossos Irmãos de Portugal. E será possível, que se tenhão transformado subitamente em inimigos vossos, intentando afogar no seu berço a nascente liberdade ? Não, Cidadãos, esta metamorfose não se pode fazer; ella he só obra dos inimigos da unidade da Nação. Elles tem accendido ateia da discórdia, para dividir a opinião, commovendo-a do seu natural assento, concitando a anarquia para arrancar, e fixar nas suas mãos o sceptro do mando, expondo os Povos aos horrores, e convulsões, que se experimentão nas crises violentas dos Estados, quando na exaltação das paixões os principios políticos se desenvolvem sem a boa fé, e a virtude da franqueza.... O General, os Chefes da Divisão de Portugal, nào tem querido, nem querem outra cousa do que manter, e conservar a unidade, e indivisibilidade da Monarquia, conservando-se inalteráveis no juramento, que prestarão ás Bases da Constituição, se esta constancia se reputa como hum crime, elles confessão desde logo, que não achão outro meio de conservar a sua honra, do que a inviolabilidade sagrada do seu juramento. Tal era o estado das cousas, e a fraternidade sincera, que existia em todos os Corpos Militares até ao fatal dia 12, cuja causa he preciso descobrir. A resolução das Cortes para o regresso de Sua Alteza Real para a Europa foi recebida como injuriosa ao Brazil: manifestou-se por todas as vias o descontentamento, os papeis públicos lançavão o veneno, que involvião, contra as Cortes, os seus Membros forão tra-