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zona fluminense, poetas e folhetinistas de uma mediocridade lamentável. Ha dias ouvi de um bardo conhecido os seguintes conceitos que me ficaram a martellar o cerebro com uma insistência medonha. Dizia convictamente o illustre nephelibata :— Zola é um escriptor como qualquer outro ; nunca o li, mas tenho certeza de que não é um artista. Eu não trocaria um só dos meus versos por toda a obra delle. —Não diga semelhante cousa! ... — Por que não hei de dizer, si, no meu entender, todo artista deve ignorar a sciencia, limitando-se unica e exclusivamente a dizer o que sente e o que pensa, sem consultar a ninguém ? E accrescentou : — Eu, por mim, não invejo a sabedoria dos que estudam. Tenho talento, admiro o bello na natureza, e isto me basta para ser um artista superior... Mais um symbolista, gaguejei com os meus botões, e fiquei a pensar nas palavras do poeta. Cito este episodio para que se não diga que sou pessimista e que procuro a todo transe negar os factos. Sinto-me feliz cada vez que descubro nas paginas de um livro novo a summa de um espirito forte e original. Dizer, porém, que a maioria dos livros publicados no Brazil produz-me essa deliciosa impressão, esse bem estar indefinivel que nos é transmittido pelas verdadeiras obras d’arte, seria mentir descaradamente com prejuizo para o meu critério litterario.