casa. Havia um vago tom de cansaço nas fisionomias; entretanto, alguns cavalheiros jogavam ainda, em um quarto próximo à luz trêmula das velas da estearina. Melo conduzia senhoras pelo braço à porta da rua, agradecendo-lhes muito o obséquio de aceitarem o seu convite.

Foi Amâncio quem ajudou Hortênsia a entrar na carruagem. Campos parecia contrariado com a demora — há duas horas que desejava retirar-se.

Encurtaram-se despedidas. O horizonte principiava a franjar-se com os galões prateados da aurora, e, do lado das montanhas desciam tons mutatinos de natureza que desperta.

Hortênsia, muito embrulhada na sua capa de casimira branca e guarnecida de arminhos, atirou-se com impaciência sobre as almofadas do carro, levantando um luxuoso farfalhar de sedas que se amarrotam. Logo, porém, que o cocheiro sacudiu as rédeas ela chegou o rosto à portinhola, e gritou para fora:

— Aparece domingo! Vá jantar conosco. Adeus!

Amâncio, perfilado na calçada, o chapéu suspenso na mão direita, em atitude de quem faz um cumprimento respeitoso, disse agitando o braço:

— Adeus, minha senhora. Hei de ir.

O carro de Campos tomou a direção da praia de Botafogo, o rapaz ainda o acompanhou com a vista; depois, levantando os ombros e abotoando melhor o sobretudo, meteu-se num tílburi que se aproximava lentamente e mandou tocar para a casa de pensão.

O animal disparou, sacudindo as crinas ao vento fresco da manhã.

Amâncio acendeu