pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes se bem que alterados por um leve estrabismo.

Vestia casimira clara, tinha um alfinete de esmeralda na camisa, um brilhante na mão esquerda e uma grossa cadeia de ouro sobre o ventre. Os pés, coagidos em apertados sapatinhos de verniz, desapareciam-lhe casquilhamente nas amplas bainhas da calça.

— Que deseja o senhor? perguntou Campos, metendo de novo a pena atrás da orelha e pousando um pedaço de papel mata-borrão sobre o trabalho.

O moço avançou dois passos, com ar muito acanhado, o chapéu de pelo seguro por ambas as mãos, a bengala debaixo do braço.

— Desejo entregar esta carta, disse, cada vez mais atrapalhado com o seu chapéu e a sua bengala, sem conseguir tirar da algibeira um grosso maço de papéis que levava.

Não havia onde pôr o maldito chapéu, e a bengala tinha-lhe já caído no chão, quando Campos foi em seu socorro.

— Cheguei hoje do Maranhão, acrescentou o provinciano, sacando as cartas finalmente.

As últimas palavras do moço pareciam interessar deveras o negociante, porque este, logo que as ouviu, passou a considerá-lo da cabeça aos pés, e exclamou depois:

— Ora espere... O senhor é o Amâncio!

O outro sorriu, e, entregando-lhe a carta, pediu-lhe com um gesto que a lesse.

Não foi preciso romper o sobrescrito, porque vinha aberta.

— É de meu pai... disse Amâncio.

— Ah! é do velho Vasconcelos?... Como vai ele?