de suas mãos!... aquelas frases poéticas, aquele mistério, aquela franqueza de confessar o seu amor em duas palavras... Não tinha que ver! era da mulher de Pereira!

E um apetite brutal, inadiável, substituiu logo a calma simpatia que lhe inspirara Lúcia.

Desde que se capacitou de que eram dela os ramilhetes, desejou-a com urgência; queria que ela surgisse ali, naquele mesmo instante, na silenciosa escuridão daquele quarto.

E voltava-se de um para outro lado da cama, sem conseguir pegar no sono.

Esperar até o dia seguinte o momento de estar com ela afigurava-se-lhe um sacrifício enorme, quase invencível. Como podia lá descansar, dormir, com semelhante preocupação a remexer-se-lhe por dentro, como um feto doido que lhe mordesse as entranhas?

Definitivamente não conseguia adormecer. Levantou-se, acendeu um cigarro, abriu a janela, e pôs-se a olhar para a lua que estava boa essa noite. Vieram-lhe logo as conjeturas sobre o como seria a situação, no caso que Lúcia aparecesse ali, naquele instante. "Que sucederia?... Que fariam eles?..."

Duas horas bateram na sala de jantar.

— Diabo! resmungou Amâncio, sentindo arrepios por todo o corpo. — Desta forma perco a noite inteira, e amanhã estou impossibilitado de ir à academia!...

A idéia do estudo apresentava-se-lhe sempre com um sabor muito amargo de sacrifício. Lembrou-se, todavia, de aproveitar a insônia para correr uma vista de olhos pela lição; acendeu a vela, corajosamente, assentou-se à mesinha que havia no quarto e abriu um compêndio. Mas não conseguia prestar atenção à leitura; percorreu distraído duas ou três páginas e ficou a olhar a chama trêmula