O rapaz concordou, mas ainda tinha que entregar várias cartas e várias encomendas que trouxera. Campos talvez conhecesse os destinatários.

Mostrou-lhe as cartas; eram quase todas de recomendação.

— O melhor é tomar um carro, aconselhou o negociante. — Olhe, vou dar-lhe um moço aí de casa, para o guiar.

E, pelo acústico, que havia a um canto do escritório, chamou um caixeiro.

Dali a pouco Amâncio saía, acompanhado por este, prometendo voltar para o jantar.

A casa de Luís Campos era na Rua Direita. Um desses casarões do tempo antigo, quadrados e sem gosto, cujo o ar severo e recolhido está a dizer no seu silêncio os rigores do velho comércio português.

Compunha-se do vasto armazém ao rés-do-chão, e mais dois andares; no primeiro dos quais estava o escritório e à noite aboletavam-se os caixeiros, e no segundo morava o negociante com a mulher — D. Maria Hortênsia, e uma cunhada — D. Carlotinha.

A mesa era no andar de cima. Faziam-se duas: uma para o dono da casa, a família, o guarda-livros e hóspedes, se os havia, o que era frequente; e a outra só para os caixeiros, que subiam ao número de cinco ou seis.

Apesar de inteligente e de brasileiro, Campos nunca logrou espantar de sua casa o ar triste que a ensombrecia. À mesa, quando raramente se palestrava, era sempre com muita reserva; não havia risadas expansivas, nem livres exclamações de alegria. Os hóspedes, pobre gente de província, faziam uma cerimônia espessa; o guarda-livros poucas vezes arriscava a sua anedota e