do jantar e a preguiçosa, Coqueiro, entrepondo-se-lhe no caminho, meteu-lhe na mão uma folha de papel dobrada sobre o comprido, e disse-lhe em tom seguro e repassado de urgências:
— É uma nova continha de suas despesas. O amigo desculpe, mas, se me pudesse pagar isto até amanhã, não seria mau, porque tenho de satisfazer aos fornecedores.
— Havemos de ver... balbuciou o hóspede, correndo pelo papel os olhos meio fechados.
O credor advertiu-o em voz baixa de que havia já esperado muito e que o Sr. Pereira, pelos modos, não se lembrara dele.
— Tem toda a razão... concordou o dorminhoco. — Juro-lhe, porém, que me não esqueci do senhor. Ainda não recebi dinheiro, sabe?
— Sim, retorquiu o outro — mas o senhor também sabe que eu preciso fazer face aos gastos da casa e...
— Tenha paciência... bocejou Pereira. — Tenha um pouco de paciência. Hei de cuidar disso.
— Mas é que não posso esperar mais, Sr. Pereira!
— Não há novidade! Pode ficar descansado, que não há novidade, respondeu aquele espreguiçando-se, já importunado com o transtorno de não se poder estirar na cadeira. E entregou a conta a Lúcia, que se aproximava com ar de curiosidade. Feito isto, deixou-se cair na preguiçosa, inalteravelmente, como nos outros dias. Daí a pouco ressonava.
A mulher leu a conta do princípio ao fim, sem um gesto, nem uma palavra; depois, ainda em silêncio, dobrou-a de novo e meteu-a no seio.
No dia seguinte pela manhã o copeiro apresentava-se-lhe no quarto, exigindo, em nome do patrão, a reposta do pedido que este na véspera fizera ao Sr. Pereira.